As recentes greves das polícias em diversos estados servem para uma reflexão mais aprofundada sobre a questão policial no país.
A demonização da greve dos policiais e de seus líderes representa uma visão tacanha e elitista, sobretudo perversa, sobre um segmento da população dos mais sacrificados. A começar pela clara questão da exposição ao perigo, ainda mais nestes tempos de PCC, Comando Vermelho, além de outras quadrilhas menos faladas, mas extremamente poderosas, que estão dentro dos subterrâneos dos poderes constituídos. Enfrentá-las, além de difícil, é extremamente perigoso, de alta periculosidade.
Critica-se inclusive a estratégia de deflagrarem o movimento na véspera do carnaval (gritavam em passeata: - “Ôôô, o carnaval acabou!”), como se a lógica de colocar suas reivindicações em momentos mais favoráveis, para eles, na negociação, fosse uma covardia.
Entendimento parecido para a luta por um piso nacional para a categoria de soldados e bombeiros, que é um mínimo para uma existência mais digna, a reinvindicação seria uma excrecência. Aliás, excrecência verdadeira que deve acabar mais cedo ou mais tarde, é a divisão, no trabalho, entre a Polícia Civil e Militar. A unificação das duas corporações já passou da hora. Isto é, juntar as incumbências investigativas, preventivas e processuais.
Nessas horas de maior tensão é que se vê a cara de pau de determinadas figuras da vida política do Brasil, como, por exemplo, o senador Lindbergh Farias que em greve anterior dos bombeiros do Rio Janeiro para apaziguar os ânimos entrou logo com projeto de anistia aos grevistas, já agora, para luta semelhante na Bahia não admite nem pensar em anistia: - “São coisas diferentes!” Diferentes como, cara-pálida? A capacidade que se tem de entortar a realidade segundo conveniências é de espantar até um extraterrestre. Na política esta máxima é cumprida estritamente. A resposta depende de que lado do espectro político se esteja, no momento.
Em 2008 na greve da Polícia Civil de São Paulo houve confronto entre as duas polícias, a Civil querendo avançar para o palácio dos Bandeirantes e a Militar a impedindo. Meu vizinho, sargento da Polícia Militar, ( barbaramente assassinado e com as investigações inconclusas até hoje), ao ser indagado sobre a greve e o entrevero me olhou sério nos olhos e disse: - “Se eu fosse o comandante da PM teria deixado a Polícia Civil passar, afinal não fariam nada demais, só pressionariam os encastelados no palácio!” Completando seríssimo:” Tem uma coisa fundamental que precisa ficar bem clara, quem fez a greve, quem estava lá, eram os honestos que vivem deste salário miserável, para os corruptos, o salário nem faz cócegas, é troco! “
É o caso de alertar, como conclusão, para a situação atual: O desespero é mau conselheiro, mas é um conselheiro!
Antônio Carlos Roxo: é coordenador do curso de Comércio Exterior e Negócios Internacionais e membro fundador do Grupo de Estudos de Comércio Exterior do Unifieo – GECEU.
E-mail : roxo@unifieo.br
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