terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Desindustrialização no Brasil

UM PROCESSO POSITIVO OU NEGATIVO PARA A ECONOMIA DO PAÍS ?
O tema desindustrialização no Brasil tem sido alvo de diversas opiniões e críticas de especialistas e economistas na mídia escrita e falada bem como provocado um debate acalorado nos meios acadêmico e político.
O fato é que por se tratar de um assunto polêmico e controverso onde os pontos de vista nem sempre são os mesmos, não é tarefa fácil se chegar a um determinado consenso que finalize as discussões.
Pode-se afirmar que existem alguns indícios que pressupõe uma possível desindustrialização, mas a questão principal é analisar se esta se revela de maneira positiva ou negativa para a economia brasileira.
A desindustrialização ocorre quando há uma diminuição da participação do segmento industrial na economia de um país, mais assertivamente em relação ao PIB.
Segundo estudos feitos pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) em 2009 a indústria manufatureira participou com 15,5% do PIB caracterizando assim uma diminuição da sua representatividade econômica se comparada com os 27,2% em 1985.
Em 2010 a participação ficou em torno de 15,8% conforme dados divulgados pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (FUNCEX), porém inferior aos 19,2% em 2004.
Outro dado que pode corroborar com um possível sinal de desindustrialização é a queda do emprego na indústria.
De acordo com o DIEESE entre 1985 e setembro de 2010 o emprego no setor industrial obteve queda de 28%.
O consumo interno de bens de média e alta tecnologia cresceu 76% enquanto a produção somente 40% entre 2004 e 2010 conforme levantamento feito pela Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ).
Nos últimos 30 anos o setor de serviços cresceu em vários países industrializados gerando mais renda e emprego para as suas populações e nesse sentido a desindustrialização foi positiva para eles.
Não se pode atribuir semelhante situação para o Brasil por diversas razões apontadas a seguir.
Os países que obtiveram uma desindustrialização positiva possuem renda per capita acima dos US$ 30 mil, ou seja, são considerados ricos.
A redução da participação da indústria nas economias dos países ricos está inserida dentro de uma diversificação dinâmica das atividades econômicas resultante da condição natural do desenvolvimento desses países.
A mudança do perfil das atividades econômicas dos países ricos não provocou uma diminuição da qualidade de vida das suas respectivas populações.
A atividade industrial desses países atingiu patamares de produtividade e competitividade maiores que os do Brasil por conta das indústrias mais desenvolvidas.
A qualificação da mão de obra nesses países é melhor do que aquela observada no Brasil.
Os países considerados ricos possuem resultados nas suas balanças comerciais mais expressivos que os registrados na balança comercial brasileira.
A desindustrialização no Brasil pode estar ligada a falta de uma política industrial formulada a longo prazo que forneça as diretrizes necessárias a sua implementação garantindo ao empresariado uma fonte segura de investimentos.
A descontinuidade das políticas industriais no Brasil que denotam uma total incompetência do governo em planejar no longo prazo, a falta de consenso e de compromisso fez com que o segmento perdesse muito em inovação tecnológica, produtividade e competitividade fatores estes que também contribuíram para uma possível desindustrialização.
O Brasil emergente com um alto potencial de crescimento necessita muito do segmento industrial como fator propulsor do desenvolvimento da sua economia.
O recém lançado Plano Brasil Maior pela presidente Dilma Rousseff e que visa defender e tornar a indústria nacional mais competitiva em relação ao mercado internacional se alicerça basicamente na desoneração dos investimentos e das exportações, aumento dos recursos para a inovação tecnológica, fortalecimento da defesa comercial e estímulo ao crescimento dos micros e pequenos negócios.
Ao que tudo indica parece revelar uma certa continuidade da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior − PITCE (2003-2007) e da Política de Desenvolvimento Produtivo − PDP (2008-2010) ambas do governo Lula.
Isso pode representar algo novo do ponto de vista da política industrial já que demonstra certa coerência de ações do governo anterior e do atual, entretanto ainda é cedo para avaliar se os resultados advindos do referido plano serão promissores para a indústria e a economia do país.
Com base em todas as considerações feitas é recomendável perceber que a desindustrialização no Brasil parece estar tomando um rumo negativo para a indústria e a economia do país.
Para que ela tenha uma conotação positiva caberá ao governo elaborar um projeto de desenvolvimento nacional a longo prazo que garanta a melhoria da produtividade e competitividade das indústrias. Dessa forma conseguirá dinamizar a economia do país fazendo com que ela naturalmente crie demandas de crescimento em outras áreas
Sergio Dias Teixeira Junior é especialista em comércio exterior, docente de comércio exterior e logística internacional do UNIFIEO e da UMC - Universidade Mogi das Cruzes e membro do Grupo de Estudos de Comércio Exterior do Unifieo– GECEU .
Autor da Coluna "Comércio Externo" no Zwela Angola, também escreve para outras mídias internacionais.
Contato- profsergio_junior@yahoo.com.br

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