O Grupo de Estudos de Comércio Exterior do Unifieo – GECEU tem discutido qual das mazelas estruturais do país, como estradas precárias, logística idem, portos idem, educação idem, carga e estrutura tributária, corrupção, inflação, juros na estratosfera e câmbio valorizado seria a responsável primeira pelo processo de desindustrialização que o país tem apresentado. De antemão, é bom que se diga, para um desenvolvimento autônomo e sustentável ao longo do tempo, a questão educacional tem sua primazia. Entretanto, para se assinalar um fator crucial no s últimos tempos, sou dos que apontam o câmbio, sem negar a importância das outras, como central neste processo, sendo, como é, um dos preços fundamentais da economia.
Mário Henrique Simonsen, economista de notório saber, apesar de seguir os cânones neoclássicos, não perdeu sua argúcia nem se deixou entorpecer pela falácia monetarista extremada, deixou para a posteridade declaração sucinta e explícita: “A inflação aleija, mas o câmbio mata”.
O Brasil sofre as consequências nefastas de uma política de câmbio valorizado, que se pratica há muito tempo, com repercussões devastadoras na cadeia produtiva da indústria. A valorização do real tem imediata repercussão em todos os setores econômicos, com aumento dos custos da força de trabalho, em dólares, o que significa maior dificuldade de concorrência internacional para as empresas nacionais.
A grande procura, principalmente pela China, por commodities, elevou a cotação desses produtos. A entrada maciça de divisas no país é um dos fatores da valorização acentuada do real. É a chamada doença holandesa, um produto ou produtos que têm elevada cotação e lucratividade desaloja ou canaliza o investimento para estes setores e ao mesmo tempo ao valorizar o câmbio diminui a capacidade de os outros setores não beneficiários da alta demanda e, portanto, do aumento dos preços, de concorrer no mercado internacional. Ao valorizar amoeda nacional aumenta a exposição do mercado interno aos produtos estrangeiros, que se tem um lado positivo como instrumento para conter a inflação interna tem, por sua vez, efeito devastador no setor industrial. Exemplo é a Holanda, quando da descoberta de imensas concentrações de petróleo, e em decorrência, a grande entrada de divisas no país, levou a enorme valorização do Florim, com repercussão extremamente negativa para a indústria holandesa, dai o nome para este fenômeno “dutch disease”, também chamada maldição dos recursos naturais. O alerta a este perigo foi feito neste espaço– “A doença laranja (dutch desease) artigo de 26/02/2008 –
O seu enfrentamento significa ter controle sobre a entrada de capitais, o que o sistema financeiro não quer nem ouvir falar, heresia principalmente para os fundamentalistas do mercado, seus prepostos nos meios de comunicação, que via de regra, são mais realistas que o rei.
Contribuiu também para a valorização cambial, o aumento da entrada de recursos especulativos aproveitando-se da arbitragem entre os países que praticam juros baixos e os que praticam juros altos como o Brasil (carry trade), que inundou o país de dólares. O aumento da cotação das commodities criou um colchão de proteção de modo que puderam enfrentar a valorização sem perder lucratividade. O problema ficou com a indústria, que com o mundo em crise sofre duplamente, pela valorização do real e pela concorrência predatória dos países centrais, em estagnação, que buscam desesperadamente mercado e pela própria China que compra matéria prima e devolve produtos acabados.
O espelho desta situação: segundo o IEDI- Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial as commodities já representam 60% de todas as exportações brasileiras. O minério de ferro que em 2005 representava 6% do total exportado, em 2011 tinha avançado para 16,3%. Recompor a cadeia produtiva não “é mole”, é só ver as imensas dificuldades para se reconstruir a indústria naval brasileira.
Para piorar a situação, aqui se faz aqui se paga,o ritmo de crescimento chinês começa a diminuir na tentativa de um pouso suave (soft land), mas se este pouso for abrupto (hard land), o mundo cairá sobre nossas cabeças.
Antônio Carlos Roxo, coordenador e professor do curso de Comércio Exterior e Negócios Internacionais é membro fundador do Grupo de Estudos de Comércio Exterior do Unifieo – GECEU. E-mail : roxo@unifieo.br